quarta-feira, 26 de julho de 2023

 

                                             Solidão da Solidão

    
            Eu não aguentava mais o meu chulé; não por não lavar os pés, e sim, por não ter ninguém para lavar as minhas meias, as minhas cuecas, as calças e camisas. Eu não aguentava mais tomar sopa, comer sanduíche, andar amarrotado. Não aguentava a poeira ultrapassando os limites dos cantos dos móveis, as panelas engorduradas, acumulando moscas, a cama eternamente por fazer.

Eu não aguentava viver a solidão da solidão, e num momento inesperado, Dona Ruth voltou para pegar alguns pertences que deixara para trás, e depois de inspecionar a casa, e de sensibilizar-se com a minha postura carente, resolveu retornar ao trabalho, exigindo, obviamente, um salário mais elevado.                                                


Nenhum comentário:

Postar um comentário