sábado, 26 de agosto de 2023


Eu matei uma formiga

Eu matei uma formiga. Não me senti forte, nem poderoso; aliás, nesse momento, nem pensei no ato de estar matando uma insignificante formiguinha, mas logo essa atitude irracional me levou a pensar no ser humano, na sua necessidade de adquirir poder, na sua capacidade de destruir o belo.

As coisas são tão perfeitas, por que nós resolvemos acabar com tudo? Quando o homem descobriu o verbo, o fogo, a roda, não imaginava que isso, um dia, faria dele um monstro poderoso, capaz de destruir tudo, inclusive a si próprio. A partir destas descobertas o desenvolvimento humano, a evolução, o seu progresso tecnológico foi todo adquirido através de guerras e destruições. O tacape, a flecha, o canhão, o avião, os foguetes, tudo foi inventado pelo homem com a intenção de dominar outros homens.

Eu, como resultado de tudo isso, fiquei olhando aquela formiga caminhando sobre a escrivaninha de tampo de vidro. Ela rodeou o teclado, passou sobre a agenda preta e veio em minha direção. Eu estiquei o dedo indicador da mão direita, posicionei-o um pouco acima e desci com força esmagando-a no vidro.

Só depois de praticar esse ato covarde foi que eu percebi que viver é uma aventura para todos nós, e eu, irracionalmente, acabei com a aventura daquela indefesa formiguinha.

É claro que ninguém vai querer aceitar isso com naturalidade, mas viver é uma aventura também para uma barata.

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