O lobo encantado
É, parece até mentira, mas um dia chegou uma fada, não se
sabe de onde, e encantou o lobo. Ele não sentiu nada quando a fada bateu a
varinha nas suas costas, nem a ouviu dizer que ele seria bom e generoso para
com os outros animais. Apenas viu algumas estrelinhas coloridas à sua volta e
estranhou a sua reação diante da fada ali ao seu lado. Em outras circunstâncias
ele teria avançado e talvez resolvido, ali mesmo, o seu problema de alimentação
do dia.
Saiu andando calmamente e, ao ver um coelho, não sentiu
vontade de caçá-lo. Foi em sua direção, e o coelho, de tanto medo, ficou
paralisado, sem forças para correr. Então o lobo disse:
- Aonde vais meu bom coelhinho?
Os outros animais assistiam a tudo e não acreditavam no que
viam.
O coelho abaixou a cabeça e disse com voz baixa:
-Vou ao Sítio do Lago Claro, comer cenouras.
-Você não deve fazer isto, meu filho - disse o lobo - O Sr.
Freitas trabalhou muito para plantar as cenouras. Você não pode chegar lá,
assim sem mais nem menos, e comer as suas cenouras. Coma essas que estão à sua
frente, e comporte-se, meu querido.
Neste momento, apareceu na frente do
coelho uma tigela com lindas cenouras, e o coelho foi logo experimentando uma
para ver se realmente era verdadeira.
Uma ovelha disse agressiva:
-Lobo, este pasto está uma porcaria. Olha o tamanho do capim!
- e logo o capim cresceu sem que o lobo precisasse dizer uma palavra. A galinha
queria milho e minhoca, e logo foi atendida. Até o Sr. Freitas, aproveitando da
generosidade do lobo, pediu uma casa nova para o sítio, com antena parabólica e
piscina.
O tempo foi passando e os animais foram perdendo
completamente o medo que sentiam do lobo, e passaram a agredi-lo. Se em algum
lugar do pasto a grama amarelasse, um pouquinho que fosse, uma ovelha ia lá,
pegava o lobo pela orelha e o trazia para mostrar, arrastando o seu focinho na
grama para que ele, imediatamente, a fizesse ficar verde novamente. Quando a TV
saía do ar, mesmo que o problema fosse da rede de transmissão, lá ia o Sr.
Freitas com o seu chicote - coisa que o lobo mesmo fizera aparecer na sua mão -
procurar o lobo para consertar. Ninguém demonstrava gratidão pelos serviços
prestados pelo lobo, e se acostumaram tanto com as benesses proporcionadas pelo
lobo que ele já nem tinha tempo de dormir.
Quando alguns animais, os mais espertos, começaram a usar o
lobo para conseguir vantagens sobre os outros, provocando uma brigalhada sem
precedentes na história do Sítio do Lago Claro, a fada voltou a aparecer. Bateu
novamente a varinha nas costas do lobo e disse, sem que ele ouvisse:
-Infelizmente eu errei. Você vai voltar a ser mau para que os
outros animais voltem a serem bons.
O lobo não sentiu nada e só viu umas estrelinhas coloridas à
sua volta.
Assim que as estrelinhas sumiram, ele avançou
sobre a fada, que desapareceu como fumaça.
Então
ele, sorrateiro, tomou os rumos do sítio, escondendo-se entre as folhagens para
não ser visto. Estava com muita fome e não se lembrava de nada do que havia
acontecido.