A linha
Foi numa época, quando eu me encontrava no auge da lucidez, e
as pessoas, talvez por não me entenderem, me tratando com desdém, que eu
descobri que o raciocínio tem uma linha. Sabia o que era, mas não sabia
explicar.
O raciocínio tem uma linha. Você vai seguindo aquela linha,
de repente, sai dali e pega outro caminho, deixando para voltar depois, e desse
caminho você vai para outro, para outro, para vários outros, e depois volta
para a linha principal. Foi nessa época também que eu comecei a não admitir que
as pessoas saíssem da linha principal e conversassem comigo fazendo de uma
linha secundária qualquer a principal. Eu as entendia perfeitamente na linha
principal, por que, então, a secundária?
Para tentar me organizar passei a escrever sobre a linha principal
e as secundárias. Escrevia até caminhando pela rua, e ia deixando as folhas
para trás. Queria entender o raciocínio e queria também que o raciocínio e as pessoas entendessem a minha lógica.
É claro que ninguém entendeu nada, e como sempre acontece, as pessoas resolveram me ajudar, como se eu, e não elas, precisasse de ajuda. Minha fragilidade não permitiu que eu reagisse, e hoje, depois de muito tempo internado, já aceito docilmente que as pessoas passeiem livremente pelas linhas do meu raciocínio.
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