Feio
Eu não sei se a flor
é linda porque a gente quer que ela seja ou porque ela é linda e pronto. A
flor, uma rosa, é, até certo ponto, feia e sem razão de ser. Pétalas vermelhas,
brancas, amarelas, rosas, umas por cima das outras, e aqueles espinhos, sempre
prontos a espantar herbívoros e a furar os nossos dedos. A flor é feia. É duro
constatar. Agora eu fiquei triste. Gente é feio, gente é horrível, gente é
necessário. Um braço é a coisa mais feia que existe. Um rosto, o nariz com dois
buraquinhos que ás vezes escorre é muito feio. A orelha é horrorosa, e ainda
por cima cresce com o tempo. Só não é feia as orelhas, os braços e o nariz da
mulher amada. Os órgãos sensoriais, separadamente, ou a falta de um deles no
conjunto da obra é um desastre. Sobre a língua, nem é bom comentar.
O chocolate é muito gostoso, mas um pedaço de chocolate amolecido, espalhado com o dedo sobre um vaso sanitário é repugnante. Até o cheiro de merda exala no ar. Tudo é uma ilusão. Uma manhã de sol encanta mais do que tudo isso, porque a manhã de sol é só a manhã de sol, e o sol, sábio como é, nem permite que a gente fixe o olhar nele para acha-lo também feio. Manhã de sol é mais uma ilusão. Baseado nessa constatação, há de se considerar que a rosa também é uma ilusão, como a manhã de sol, só que ela não nos ofusca com a sua claridade.
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