sábado, 25 de maio de 2024

 

“PLOC”

                Um homem, ao sair do quarto escuro, pegou o chapéu e correu até a porta. Desesperado, tentava falar, sem conseguir. Sentia, há tempos, que começara a ficar mudo. Queria se libertar da vida que levava, e já na rua, abraçou o primeiro transeunte que encontrou. Por coincidência esse transeunte era eu, que nesse instante quase chorei de emoção diante daquele gesto nobre. Apertei-o contra o peito e ele ainda brincou, segurando o meu nariz entre os dedos. Eu espirrei três vezes e comecei a me coçar. Foi tudo muito rápido: cocei, cocei, e, de repente, a pele começou a se desfazer nas minhas mão, e logo em seguida a carne também. Eu tocava, aflito, os meus próprios ossos, e o couro cabeludo se desfez entre horror e lágrimas. Um dos meus globos oculares caiu como uma bola de gude e eu, olhando aquele olho no chão, com o olho que me restara, tive vontade de pisar para ouvir fazer “PLOC”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário