sábado, 17 de maio de 2025

 

O intruso

            Garrafas vazias sobre a mesa ainda desarrumada de ontem. Sobraram alguns copos com restos de vinho e pratos por lavar. Foram muitas conversas desagradáveis, outras sensatas, até instrutivas. Ninguém admitiu o seu erro.
            Ela discorreu sobre seus sonhos.
            Ele, suas necessidades prementes.
            Ela tentou seduzi-lo.
            Ele não se interessou.
            Ela se desinteressou.
            Ele quis.
            Ela chorou baixinho.
            Ele a acariciou e cobrou atitude.
            Ela se descabelou, o estapeou.
            Ele sentiu prazer.
            Ela não notou.
            Ele falou difícil
            Ela fingiu não entender.
            Ele, orgulhoso, sorriu com ironia.
            Ela sentiu pena dele.
            Ele insistiu nas questões pessoais.
            Ela falou de questões ancestrais.
            Ele pediu um prazo.
            Ela aceitou.
            Ele sentiu-se leve e livre.
            Ela, confiante e só.
            Ele tentou recuar.
            Ela fincou o pé na decisão.
            Ele bebeu, fumou, ficou mudo.
            Ela fingiu o controle de tudo.
            Um inseto veio ajudar.
            Chegou sem cerimônia, embaralhando os pensamentos.
            Eles se uniram na caça ao intruso.
            Correram, bateram, se distraíram.
            Tomaram mais vinho, se abraçaram, riram.
            Ela se entregou.
            Eles se entregaram.
            Ele deu tudo de si, se empenhou.
            Ela gostou de ter ido e ficado.
            Ele jurou redobrar o cuidado.

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