Perdas e ganhos
A vida tem ido bem, apesar dos atropelos. Ontem eu fui
atropelado por uma jamanta. Não foi nada grave. Fiquei sem três dedos do pé
esquerdo, sem o pé direito (para ser mais preciso, da canela para baixo), sem o
rim direito, perfurado pelo para-choque da jamanta e uma parte da orelha, também
direita.
Como no atropelamento de anteontem eu já havia perdido a
orelha esquerda, não liguei muito porque deu um certo equilíbrio no meu rosto
sem nariz.
Parece mentira, mas a sorte, apesar de tudo, tem sorrido para
mim. Outro dia eu estava andando na rua e olhei, sem querer, para a janela de
um prédio, e lá estava ela, sorrindo, sorrindo. Ria que se mijava toda, e eu,
meio encabulado, comecei a rir também: há, há, há, há...Há, há ,há, há ,há, há,
há, há...Quááá quááá, quááá, há, há, há, há, há ,há.
Fiquei
lá, parado, rindo, e quando percebi que ela não estava rindo para mim, e sim
rindo de mim, veio uma Kombi e PUFT! Fiquei sem quatro dentes da arcada
superior direita e um bago; o esquerdo.
O chato é que quando eu me acostumo a andar mancando, nasce
novamente o pé. Quando eu me sinto feliz por não ter mais que cheirar a
podridão espalhada pela cidade, nasce novamente o nariz.
A vida é cheia de perdas e ganhos.
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