Tour em l’air
Depois de receber o telefonema de um amigo, marcando um
encontro para aquela noite, o rapaz correu até o canto da enorme sala da sua
casa, abriu os braços, ficou na ponta dos pés, e, com o corpo apoiado em uma
das pernas, estendeu a outra para trás. Estendeu também os braços: um para
frente e o outro para trás, como se querendo que a ponta da mão esquerda, que
estava para frente, ficasse o mais longe possível do pé direito, que estava
para trás. Avançou pela sala na ponta dos pés numa sucessão de passos curtos e
uniformes. Já quase perto da parede deu um tour em l’air, virando-se novamente
para a porta. Depois deu um salto, acompanhado de cruzamentos rápidos e
sucessivos das pernas, e correu novamente na ponta dos pés com um braço para a
frente e o outro para trás.
Seus movimentos eram delicados, e depois de vários baattus,
brisées, fonettés, pás de bourrées e releves, olhou para a porta da sala e se
deparou com o pai, um oficial da reserva, segurando algumas sacolas de
supermercado e olhando-o assustado. Ele também se assustou, e, imediatamente,
caminhou com passos firme até a porta para ajudá-lo a levar as compras para a
cozinha.
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