domingo, 30 de novembro de 2025

 

Frutos

            Dizem que a verdade produz frutos. Se for assim a mentira também produz. A falsidade, a inveja, tudo produz frutos. Portanto pode-se considerar que o fruto da mentira pode ser um jiló disfarçado de maçã. O da falsidade, uma pera palatável por fora e podre por dentro e o fruto da inveja, uma banana nanica querendo ser caturra, e o fruto da verdade pode ser um lindo suco de frutas numa manhã de verão, principalmente se for hoje, que está quente pra caramba.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

 

O preço da liberdade

             A formiga subia apressada pela porta do teatro. Eu admirava a sua capacidade de se locomover na vertical. Chegando no teto, ela seguiu para a esquerda. Na quina da parede, se enroscou numa teia de aranha. A porta do teatro se abriu. Eu segui a fila e a formiga ficou lá, embaraçada, pagando pelo excesso de liberdade.



domingo, 23 de novembro de 2025

 

Uma tristeza que contagia

         Daqui não sai nada: nem aflição, nem alegria, nem indignação, nem fantasia. Aqui só entra tristeza, uma tristeza que contagia.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

 

A máquina desarvorou

         A máquina desarvorou, virou modelo de sonho, pegou no pé do prosaico, rodou num giro enfadonho.
         Procuro livrar-me do eu, tento e vou caminhando, fica escuro, tudo breu, eu continuo tentando.
         Agora eu não vou pensar, o que vier sairá, não quero saber de rima, tampouco do que virá.
         Grito sem pensar no ato, prego no gato o martelo, cuspo na cara do pato, mijo no cogumelo.
         Não gosto de fazer rimas, rusga rica rasga a rua, porra louca, bica fria, me entrego à mente nua.
         Parece que tudo parou, eu não ouço o meu clamor, não sinto nada, nem dor, não sinto o cheiro da flor.
         O mundo ficou vazio, entrando só um clarão, eu começo a sentir frio, um frio em combustão.
         Ironia do destino, hoje a regra é concisão, foge, foge, sai correndo, não se arrisque em confusão.
         Não sei se como um porvir, não sei se durmo acordado, sinto que morei aqui, sinto que morei ao lado.
         Até aí, tudo bem, tudo certinho também, Isso aqui é uma bosta, uma bosta de neném.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

 

Voar entre estrelas

         Escrever poesia significa juntar letras em pensamento, organizar palavras, desorganizar a lógica e voar entre as estrelas.

sábado, 8 de novembro de 2025

 

Tim, tim

         Eu quero um copo de paz. Pode ser  Cabernet ou Merlot, tanto faz. Eu quero um copo de amor. Este tem que ser espumante. Eu quero saúde da roça, só com limão, a felicidade sem colarinho e bem gelada. Quero a amizade on the rocks e um cocktail de sorte.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

 

Lua doméstica

         A lua do meio dia, na casa fechada, vem da fresta do telhado aquecendo a mesa inerte. É uma lua doméstica, que só encontra os móveis da sala e quem consegue emocionar-se.

domingo, 2 de novembro de 2025

 

A palavra se revela

         A palavra se revela, eu me arrepio no chão. Pretendo brigar com ela, destravo a foice e o facão. É quando tudo desliza, ideias cortam o clarão: palavra, mente, pesquisa, tudo brotando da mão. A claridade harmoniza, o asco, o isto, a noção, tudo parece que brilha, até concluir, solidão