quarta-feira, 30 de julho de 2025

 

Esconderijo de peixes

            Joguei uma pedra no lago. O lago sorriu em ondas e acolheu a pedra. A pedra deixou de sustentar sapos para virar esconderijo de peixes.






sábado, 26 de julho de 2025

 

Os relógios

            Os relógios de antigamente eram mais difíceis de serem consultados. Ou você comprava um, que era bem caro, mesmo os mais vagabundos, ou andava sempre perguntando as horas aqui e ali. Nessa época também podia-se usar o relógio d’água, o relógio de areia, o relógio das flores de Petrópolis, que eu já utilizei diversas vezes.
            Hoje o relógio está em todo lugar: no rádio, na TV, no celular, nos pontos de ónibus. Isso priva o ser humano da doce ilusão de que o tempo, como antigamente, andava devagar, e que a morte ia custar a chegar.

domingo, 20 de julho de 2025

 

O diabo e o bom Deus

            O diabo saiu de cena. Ninguém mais o teme como antigamente. Hoje todos temem a Deus, como se Ele fosse vingativo e mau. Se Ele é todo amor, jamais castigará alguém. O diabo, aproveitando dessa mudança de foco, foi para os púlpitos disseminar o preconceito, o ódio, o medo, a descriminação.

terça-feira, 8 de julho de 2025

 

Benesses

            A minha impossibilidade de participar das benesses que o mundo oferece, torna-me um desajustado, desanimado, demasiado insano. Claro que esse insano foi colocado aqui para quebrar essa necessidade de produzir, sonoramente, musicalidade no texto.
            Mas voltando às benesses oferecidas pelo mundo, o que estou recebendo atualmente são afagos no ego, que não me levarão a lugar nenhum.
            Tudo desabou. Eu já não sou mais aquele que acredita em Papai Noel. O bom velhinho morreu e eu estou aqui sem ter para onde ir. Já não sigo com entusiasmo. A realidade flechou em mim.

sábado, 5 de julho de 2025

 

Fantasmas pelados

            Os fantasmas sempre aparecem vestidos de branco, esvoaçantes, envoltos em uma fumaça meio imperceptível.
            Eu acho que lá no reino fantasmagórico, como eles já se livraram da existência aqui na terra, deveriam andar todos pelados, pois, não faz sentido flanar vestidos entre uma investida e outra, no seus propósitos de intimidar. E tem uma coisa: se eles viessem pelados assustariam muito mais.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

 



O homem do prato

            Na orquestra o homem do prato é um sujeito de personalidade. Exerce a sua função de incomodar como o boxeador, que dá socos, joelhadas, pontapés e cotoveladas no saco de pancadas. Que diacho o levou ali, extirpando o tímpano da plateia e de todos as membros da orquestra?